sábado, março 19, 2005

Update - Mangás

Bom, depois de um mês sem postar nada sobre HQs (as últimas resenhas foram as do terrível fim-de-semana X), é um bom momento de dar uma recapitulada no que andei lendo. Como acertei a colaboração com o Fanboy para publicar resenhas, não devo mais postar resenhas completas por aqui (acredite, escrever essas coisas gasta um bom tempo). Vou dar uma geral no que andei lendo com breves comentários, acho que é mais interessante. Separei os posts de hoje em Mangás e Comics, só para não ficar um post gigantesco.

Bom, para começar tenho que dizer que chegou meu Ghost In The Shell 2: Man-Machine Interface. Comprei pela Amazon.com, custou o olho da cara, mas é foda, porque por aqui esses troços nunca vão ser publicados. Gosto muito da série Ghost In The Shell. O mais complexo e detalhado mundo de ficção cyberpunk que eu já vi. Aliás, chega a ser confuso, de tão complexo e detalhado. E ainda se mete a fazer reflexões filosóficas barra-pesada. Ainda não li esse mangá, mas fiquei um pouco decepcionado com o formato. Apesar da qualidade gráfica excelente, ele foi publicado pela Dark Horse em formato de mangá. "Lógico", você deve estar pensando, mas o fato é que o primeiro GITS tem a mesma qualidade gráfica e foi publicado pela mesma Dark Horse em formato americano. Beeeem mais legal, se você quer saber. Mas tudo bem. Pelo menos não é leitura inversa.

Falando em leitura inversa e mangás, estou viciado em Lobo Solitário. Quando comprei o volume 1 (que, como sempre acontece com a Panini, saiu com meses de atraso) fiquei puto com o formato do troço. Leitura inversa, papel jornal e formatinho, em vez do formato de mangá "clássico", como os da Conrad. Mas o material é tão bom, mas tão bom, que depois de alguns minutos já tinha esquecido desses detalhes. A história é excelente, as ambientações e caracterizações são perfeitas. Eu sempre gostei de ler sobre o Japão feudal, e até acompanho outros mangás de samurai, mas esse é genial mesmo. Pena que a publicação da Panini seja tão porca. Já estou terminando o volume 3 agora, e a série só melhora.

Falando em mangá de samurai, voltei a acompanhar Blade Of The Immortal. Acompanho essa série há anos, muito antes da Conrad começar a publicar por aqui, através dos encadernados gringos da Dark Horse. A partir da edição 24, a série nacional ultrapassou os encadernados gringos, e começei a comprar. É esquisito porque as edições da Dark Horse são leitura ocidental (mas não espelhada - os caras remontam os quadros e diálogos da direita para a esquerda), e os nomes de alguns personagens é ligeiramente diferente (ainda não me acostumei a chamar o Giichi de Gity - apesar do som ser o mesmo). Também tem aquela eterna confusão de nome e sobrenome japonês. Na edição nacional eles não invertem os nomes, o que soa meio estranho. Mas a diferença gritante mesmo é o papel. Na edição americana o papel decente destaca bem mais a arte, especialmente nos quadros feitos a lápis (ou pelo menos parece lápis, e o resto parece nanquim, mas posso estar falando bobagem).

Quanto à história em si, é muito boa. Depois de passar milênios desenvolvendo os personagens, Samura finalmente começa a colocar o pessoal para interagir. Manji, Giichi, Magatsu, Anotsu, Rin, Hyakurin, Makie, o fodaço vilão Shira... todos já viraram personagens que a gente conhece e se importa de verdade, por isso os combates são cada vez mais tensos e significativos. Fora que os team-ups são de arrepiar. Depois de Manji e Magatsu contra Shira (o maior combate da série na minha opinião), tivemos o clássico encontro na beira do rio, que colocou na mesma cena praticamente todos os personagens centrais da trama, com destaque para Makie, que mostrou ser a guerreira mais forte de todo o elenco de Blade. Depois veio o combate entre Giichi e Manji, que foi mais para criar um clima, porque tava na cara que eles iam acabar se unindo. E então tivemos Manji e Giichi contra Magatsu e um bando de Itto-ryu fodões. Acredito que essa série está caminhando para colocar Giichi, Manji, Magatsu e talvez até Anotsu do mesmo lado, colocando os Mugen-ryu como vilões da história. O que seria muuuuito legal. Por outro lado, Samura não gosta de deixar nada preto no branco, e os personagens têm uma série de motivações e agendas ainda meio obscuras. E Manji já deixou claro que não tem intenção nenhuma de se juntar a qualquer dos dois lados. O que deixa uma ótima sensação de que muitas surpresas ainda estão por vir. E parece que o Shira ainda vai dar trabalho, sem os dois braços e um olho, hehehehe!!!

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

X-Men Extra #35 a #37


Panini Comics - Novembro, 2004


Panini Comics - Dezembro, 2004


Panini Comics - Janeiro, 2005

Continuando as resenhas coletivas após a Maratona X do fim-de-semana, aqui está X-Men Extra.

X-Táticos (X-Statix #11 – Ago/2003 a #13 – Out/2003)

Roteiro: Peter Milligan
Arte: Mike Allred
Cores: Laura Allred

Vou começar pela parte boa. X-Men Extra só vale por X-Táticos, que considero a melhor das séries X atualmente, e certamente um dos melhores trabalhos de Peter Milligan até agora. Ele e Mike Allred nos oferecem vários níveis de leitura aqui, e todos são satisfatórios. No nível mais superficial, X-Táticos é uma história sobre uma equipe de super-heróis mutantes que adquirem o status de celebridades, no sentido mais atual possível da palavra. Neste nível a série satisfaz desenvolvendo personagens interessantes e seus relacionamentos – nada convencionais, diga-se de passagem. X-Táticos também pode ser visto como uma sátira das histórias de super-heróis, brincando com vários estereótipos do gênero (e do universo X em especial) sem chegar ao ponto de afugentar os fãs do gênero. Há ainda uma boa dose de crítica social no cinismo e superficialidade dos relacionamentos entre os personagens. Mas a superficialidade dos personagens não se traduz em superficialidade na abordagem. Em vários episódios vemos Milligan aprofundar-se em alguns deles de forma tocante.

A arte é igualmente interessante, quase cartunesca, exaltando o fato de se tratar de uma HQ de super-heróis. Aqui não há traços realistas nem cores computadorizadas. Simplesmente uma arte muito bem feita que casa perfeitamente com o tom da série. Eu poderia aqui discorrer ainda muito mais sobre as qualidades dessa série, que despretensiosamente se mostrou uma das melhores coisas publicadas pela Marvel nos últimos anos.
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X-Treme X-Men (X-Treme X-Men #32 – Dez/2003 a #37 – Fev/2004)

Roteiro: Chris Claremont
Desenhos: Igor Kordey
Arte-final: Scott Hanna (exceto #35), Greg Adams (#35)
Cores: Liquid! (#32 a #35), Transparency Digital (#36 e #37)

O carro-chefe de X-Men Extra é a medonha X-Treme X-Men, de Chris Claremont e Igor Kordey.

No arco Intifada (X-Men Extra #34 a #36) tivemos três histórias paralelas mal executadas, mal desenhadas, com péssimos diálogos e enredo sofrível. Exige um certo domínio da arte para escrever histórias tão ruins. Claremont certamente tem esse domínio, por ter passado boa parte da vida escrevendo a novelinha dos X-Men. Nesse arco os X-Men (ou ao menos a parte deles que “mora” em X-Treme) lidam com a ameaça de uma gangue de adolescentes mutantes, investigam indícios de corrupção na Corporação X e negociam um acordo com as maiores potências mundiais que cria uma espécie de polícia mutante com jurisdição global liderada por Tempestade. Comentar a quantidade de furos, absurdos e idiotices contidas nessas três histórias gastaria um bom tempo, de que não disponho, embora talvez me divertisse.

Para se ter apenas uma idéia do nível abissal dessas histórias, basta comentar que a “negociação” entre Ororo e os maiores líderes mundiais para a criação de uma polícia mutante global se dá na beira de um lago na residência do presidente americano com Ororo e Gambit em trajes de banho (quando não nus) sendo flagrados aos beijos e abraços pelo menos duas vezes pelos líderes mundiais. Ela fala uma meia dúzia de frases de efeito, os líderes voltam para a residência do presidente, ela se pega com Gambit, os líderes voltam, os pegam em situação comprometedora (de novo) e comunicam que toparam. Isso é bizarro.

O arco seguinte, A Arena, era para ter sido publicado originalmente como uma mini da Tempestade. Não o foi por razões nebulosas, como de costume. Então Claremont teve que fazer uma enorme ginástica para encaixar a história na cronologia da série. O resultado é sofrível. A história, pior ainda. Terei oportunidade de comentar mais a respeito nas próximas resenhas de X-Treme X-Men, mas desde já fica a minha impressão daquela roupa de drag-queen usada pela Tempestade para entrar na boate: nauseante.

Há ainda um detalhe a considerar. A arte de Kordey é simplesmente horrenda.

Os fãs de X-Men e os executivos da Marvel parecem ter chegado a um acordo de que Claremont é o único ser humano capaz de escrever os X-Men. Eles que queimem no inferno de braços dados.
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Exilados (Exiles #30 – Set/2003 a #32 – Out/2003)

Roteiro: Chuck Austen (#30), Judd Winick (#31 e #32)
Desenhos: Clayton Henry (#30), Jim Calafiore (#31 e #32)
Arte-final: Mark Morales (#30), Mark McKenna (#31 e #32)
Cores: Transparency Digital

X-Men Extra ainda nos presenteia todo mês com Exilados, que apesar de não ser grotesca, é aquele tipo de história que você esquece depois de 5 minutos. A idéia original dos Exilados até não é de todo ruim, porque no fundo ele é um "o que aconteceria se..." disfarçado. A questão é que essa premissa obviamente não sustenta uma série mensal. No máximo rende boas minis. Chega um ponto em que simplesmente você não se importa com nada que acontece, mesmo porque nada do que acontece aqui tem qualquer influência no universo “real”. Em geral as histórias se mantêm num nível bem básico de roteiro: os Exilados recebem uma missão, a cumprem, vão embora, recebem outra missão, a cumprem, vão embora, e assim ad eternum.

O número #30 (X-Men Extra #35) mostra o final do arco de Chuck Austen, ruim como sempre. Aliás, nem posso dizer que entendi direito o que foi esse arco. Pelo que entendi, Austen estava tentando ligar os Exilados a uma sub-trama de Uncanny, que eu felizmente não acompanhei. Não entendi a premissa (quem diabos é esse Alex do mal?), não gostei do desenvolvimento (lobisomens não são lá os vilões mais interessantes do mundo) e não dei a mínima pro final. Pura perda de tempo, apesar da arte de muito boa qualidade.

Judd Winick volta nas edições #31 e #32 (X-Men Extra #36 e #37) , num arco de duas edições que mostra um universo alternativo em que os Vingadores são vampiros. Não há nada muito inspirado aqui. A história não é ruim, mas o final é decepcionante, especialmente a apelação da espada da Mágica subitamente se revelar uma arma raríssima e, convenientemente, a única no Universo capaz de destruir o líder dos vampiros. Ah, tá.

X-Men #35 a #38


Panini Comics - Novembro, 2004


Panini Comics - Dezembro, 2004


Panini Comics - Janeiro, 2005


Panini Comics - Fevereiro, 2005

Como prometido, começa aqui a super-resenha da Maratona X do fim-de-semana. Resolvi fazer uma resenha conjunta para todos os números, porque não tenho saco para fazer uma resenha de cada revista. Mesmo porque elas não merecem.

Novos X-Men (New X-Men #143 – Ago/2003 a #148 – Dez/2003)

Roteiro: Grant Morrison
Desenhos: Chris Bachalo (#143 a #145), Phil Jimenez (#146 a #148)
Arte-final: Tim Townsend (#143 a #145), Andy Lanning (#146 a #148)
Cores: Chris Chuckry

X-Men é um mix medonho que só justifica sua existência pelos Novos X-Men, de Grant Morrison. As edições #35 e #36 trazem o final do arco Ataque ao Arma Extra, um arco de muita ação, enredo intrigante e arte competente. O final do arco não é propriamente um final, e a continuação desse arco será uma das mais interessantes reviravoltas na história recente dos X-Men.

Começa então o arco Planeta-X Após a grande revelação de que Xorn era, na verdade, Magneto, a história toma rumos muito legais. Drogadão, Magneto destrói Nova York levando o Instituto Xavier junto. O vilão recria sua Irmandade de Mutantes, agora com seus ex-alunos da classe especial, e se prepara para convencer o mundo de que será seu novo governante.

A volta de Magneto não foi, obviamente, uma surpresa, mas foi feita decentemente. O estágio atual de Planeta X não é dos momentos mais emocionantes do mundo, mesmo porque a trama com Wolverine e Jean espiralando com destino ao Sol não vai dar em nada – obviamente eles não estão em perigo de verdade, afinal são protagonistas da série – mas sem dúvida será uma leitura divertida ver como Morrison vai salvá-los. Fênix, alguém? Também estou muito curioso para saber como evolui a história depois da devastação de Nova York. Se é que foi devastada mesmo, porque a essa altura eu já fico esperando algum telepata ou ilusionista aparecer e dizer que tudo aquilo foi uma projeção mental. O fato é que essa série é uma das melhores do Universo X atual, e a única que ainda me move a gastar aqueles malditos R$6,50 por mês.
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Fabulosos X-Men (Uncanny X-Men #427 – Set/2003 a #432 – Dez/2003)

Roteiro: Chuck Austen
Desenhos: Steve Kim (#427)
Arte-final: Morales, Green e Florea (#427)
Desenhos e Arte: Sean Phillips (#428), Philip Tan (#429 a #432)
Cores: J.D. Smith (#427), Avalon Studios (#429 a #432)

Fabulosos X-Men é uma série sofrível. Chuck Austen é, provavelmente, um dos piores roteiristas da história dos quadrinhos mainstream. Sua capacidade de criar tramas completamente desinteressantes, absurdas e idiotas é sem limites. Certo, o cara foi contratado pela Marvel. Alguma coisa ele deve saber fazer. Eu concordo com isso. E até acho que sabe. Quando fica no básico – a boa e velha novelinha X-Men - Austen é aceitável. O problema é justamente que ele nunca fica no básico. Ele é pretensioso, e isso fica claro pelas suas idéias centrais, que em geral não são ruins. Mas a falta de qualidade é gritante no que trata de desenvolver e concluir a história. Outra coisa que me irrita profundamente é a superficialidade de suas personagens femininas. As mulheres, para Austen, só se interessam por sexo e romance (nessa ordem). Isso é patético, e só contribui para tornar as interações entre personagens completamente inverossímeis. Mas eu deveria falar alguma coisa das histórias que estava lendo.

Na edição #35 temos uma história isolada que mostra o Anjo indo a um hospital para testar seus poderes de cura recém-descobertos. Há momentos sentimentalóides e uma “lição” no final. Ruim.

Um novo arco chamado Draco começa em X-Men #36, e volta a lidar com a origem do Noturno. Temos Mística irreconhecível como uma ingênua senhora da sociedade alemã da década de 80. Aliás, isso é o que Austen diz, apesar de todos os cenários lembrarem a Europa medieval – incluindo uma turba enfurecida perseguindo a Mística com TOCHAS. Então tá. Como o arco ainda não fechou, vou deixar para comentar mais sobre a trama posteriormente.

No entanto é necessário frisar que a arte de Tan é muito, muito ruim, abusando das hachuras de forma quase criminosa, além de mostrar uma clara dificuldade do artista em desenhar rostos diferentes. Péssimo.
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Novos Mutantes (New Mutants #5 – Nov/2003 a #7 Jan/2004)

Roteiro: Nuzio Defillipis e Christina Weir
Desenhos: Mark A. Robinson (#5 e #6), Carlo Barbieri (#7)
Arte-final: Aaron Sowd, Wayne Faucher e Scott Elmer (#5), Pat Davidson e Scott Elmer (#6), Juan Vlasco (#7)
Cores: Ian Hannin (#5 e #6), Ian Hennin e Rob Ro (#7)

Completando esse mix temos Novos Mutantes. Essa série deveria mostrar as aventuras de um grupo de alunos do Instituto Xavier. Eu resumo meu ponto de vista com relação a essa série da seguinte forma: duvido muito que alguém vá à banca pensando “tomara que tenha chegado a X-Men porque estou doido para ler os Novos Mutantes desse mês”. Isso não acontece.

Tá, a série não é nem de perto nauseante como X-Treme X-Men e Fabulosos, mas simplesmente não funciona. A abordagem que os autores querem nos vender é: “oh, esses serão os X-Men do futuro”. Exceto que estes não são os X-Men do futuro, porque os X-Men sempre serão os mesmos, apenas mudando os nomes das equipes e suas formações. Além da premissa obviamente fraca, Novos Mutantes não funciona também pela execução. É uma série insossa, despretensiosa demais, como se os próprios autores não acreditassem que fosse durar. Bom, Novos Mutantes foi cancelado nos EUA no advento de Reload, então os autores estavam certos.

Não há muito que comentar, exceto que esse título exacerba uma coisa que me incomoda profundamente nessa tonelada de títulos mutantes por mês. Os eventos não se encaixam com os dos outros títulos. O Instituto Xavier acabou de ser destruído pelo Magneto em Novos X-Men, na edição de Novembro de 2003, e Novos Mutantes ainda não percebeu isso na sua edição de Janeiro de 2004. Pelo amor de deus! Isso só mostra total falta de planejamento e cuidado da Marvel, que com isso só vai queimando suas séries mais populares.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Overdose

Neste fim-de-semana eu fiz algo terrível. Infelizmente o vício está começando a comprometer minha saúde mental, como muitas pessoas sempre me alertaram. Mas nunca dei ouvidos. Eu só queria mais, mais, mais... em algum momento, perdi o controle e, para sustentar o vício, apelei para o consumo de drogas de baixa qualidade. Estou com dor de cabeça.

Estou escrevendo esse depoimento para que ninguém cometa o mesmo erro que eu. Estou tentando salvar vidas aqui! Meu drama? Recuperei 4 meses de atraso na cronologia X da Panini! De uma vez! Entendam, foram X-Men #35-#38 e X-Men Extra #35-#37 DE UMA VEZ SÓ! Só de lembrar, fico enjoado! ATENÇÃO, crianças, nunca, JAMAIS tentem isso em casa. Sou um profissional...

Queria muito compartilhar com todos minhas impressões a ler esses quadrinhos, mas não sei se vou conseguir. Minha capacidade de síntese é limitada para a quantidade de porcaria que queria comentar. No entanto creio que é meu dever ao menos tentar. A humanidade deve ser alertada. Daqui a pouco posto as resenhas.

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

100 Argumentos

Sexta-feira, dia de visitar a “comic shop” (nome que as livrarias que têm seções especializadas em quadrinhos adotaram para imitar os gringos). Aqui em BH só existe uma digna de nota, a livraria Leitura Savassi, que tem um “andar” (um sótão para ser mais exato) parcialmente dedicado aos quadrinhos, que disputam espaço com zilhões de suplementos e livros de RPG. A proposta hoje nem era fazer compras, apenas dar uma bisbilhotada e atualizar a lista dos “eu quero”.

Eis que hoje presenciei uma cena curiosa na Leitura. Dois amigos, com uns 15, 16 anos, chegaram falando alto. Um deles visivelmente excitado por apresentar ao colega o maravilhoso mundo dos quadrinhos, do qual fazia questão de dizer bem alto que entendia muito. Chamemos, para efeito de narração, um de O Sábio e o outro de O Aprendiz.

O Sábio levou O Aprendiz até a loja para “ensinar o ABC dos quadrinhos” segundo o próprio. Começou mal, nem tomando conhecimento de uma estante entupida de mangás e ignorando completamente A Prateleira dos Tesouros, que é aquela onde ficam as graphic-novels, e atualmente contém exemplares de Sin City, Metamorfose, O Corvo, A Liga Extraordinária, Concreto, Locas, um monte de coisas de Crumb e algumas de Eisner, entre muitas outras. Pularam também a parte da Vertigo, onde estavam títulos como Preacher, Hellblazer, 100 Balas e Sandman. Ignoraram até mesmo um encadernado solitário de Akira perdido por lá. Também passaram batido pela parte dedicada à Brainstore, com as coisas de Warren Ellis que eles andaram publicando. Por perto tinha mais alguma coisa de Moore, tipo Do Inferno e Tom Strong. Logo acima deles estava o último exemplar de Johnny Double. Um pouco mais adiante é a seção de quadrinhos nacionais. Mas não chegaram lá. Pararam e fitaram maravilhados a capa de Wolverine: Snikt! Seguiu-se a inevitável frase: “O Wolverine é do caraaaaaalho!!!”

Na verdade sejamos justos. O Sábio é que era um imbecil. O Aprendiz apenas estava sendo enganado. Continuei minha geral na loja escutando involuntariamente os papos dos dois. Os ensinamentos do Sábio começaram com alguns minutos de doutrinação. Foram dadas umas 10 razões pelas quais a Marvel é melhor que a DC - todas absurdamente idiotas, sendo a pérola “os personagens da Marvel são mais realistas”. Depois veio uma entusiasmada revisão dos principais eventos da cronologia dos X-Men (“desde 2002, que foi quando comecei a colecionar para valer”, completou o Sábio). O Aprendiz ouvia atentamente, embora eu pudesse notar um certo ar de tédio no seu olhar.

Passadas as lições iniciais, se separaram e começaram a folhear revistas. Meio que perdido na loja, o Aprendiz começou a bisbilhotar a Zona Morta do Sábio, enquanto este se divertia com a Wizard do mês. O silêncio reinou e me esqueci dos dois até que o Aprendiz, folheando uma edição de 100 Balas perguntou: “E este aqui?”. O Sábio: “Ah, é uma revista dos caras que faziam o Batman.” Soltei um longo suspiro e, sem escolha, continuei escutando. “É legal?”, perguntou o Aprendiz. “Num gosto dessas revistas aí não. Nunca li, mas me falaram que é chato.” O Aprendiz bravamente continuou: “Sei lá, parece legal. Olha só.” E mostrou alguns quadros para o Sábio. “Ah, essas histórias são maior paradas. Só tem uns tiros de vez em quando. E olha o preço. 7,90 e não tem nem 30 páginas. A dos X-Men custa 6,90 e tem 100. Vai jogar dinheiro fora.” O detalhe: “Mas tá em promoção, 4,50” disse o Aprendiz, numa última tentativa. “Eu não pago nem 1 real nisso”. Compraram a Wizard e foram embora. E eu fiquei morrendo de pena do Aprendiz, que poderia ter entrado no mundo dos quadrinhos através de uma série decente, e acabou tendo suas chances devoradas pelo fanatismo acéfalo e a estupidez absoluta.

Isso é o público-alvo da Panini. Esses são os consumidores que ditam as regras do mercado editorial nacional. É triste. Mais que isso, é assustador. É o triunfo da quantidade sobre a qualidade. Fiquei tão chocado que comprei um exemplar de Kaos!, revista nacional de quadrinhos independentes em P&B por R$7,50. Me perdoe, oh Sábio!

Wolverine #2


Panini Comics - Fevereiro, 2005

Wolverine (Wolverine #3 - Set/2003 e #4 - Out/03)

Logan continua a investigação da morte de Lucy Braddock. Ele chega a Westfall procurando pelo pai da moça e a trama envolvendo "os manos" começa a fazer algum sentido. Acabamos conhecendo um pouco mais do funcionamento da seita do Grito através da agente Cassandra Lathrop, que acaba se infiltrando no Q.G. de uma maneira pouco agradável.

A história continua na mesma toada do número anterior. Rucka nos vende um Wolverine que é um investigador incansável, embora não dos mais politicamente corretos. Veja, por exemplo, a técnica empregada no interrogatório do xerife. Se ainda não estava claro desde o início, aqui é jogado na cara o fato de que Logan está nessa por motivos pessoais, ao contrário de Cassie Lathrop. Os dois inevitavelmente vão estar lado a lado no final um tanto previsível, mas não a ponto de tornar a leitura desagradável. Apesar de mais lento do que o típico roteiro de uma historia do Wolverine, o andamento aqui é bem dosado para o clima de suspense criado pelos autores.

Em linhas gerais, essa história vem me agradando bastante, embora esteja longe de ser genial. Pelo menos dessa vez parece que os rumores estavam corretos.
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Arma X (Weapon X #15 – Jan/2004)

Roteiro: Frank Tieri
Desenhos: Georges Jeanty
Arte-final: Norm Rapmund & Don Hillsman
Cores: Tom Chu

É a minha segunda edição de Wolverine, e como vários outros leitores que jamais se interessaram por Arma X, estou perdido. Mês passado a história focava o Sr. Sinistro. Agora é a vez de Câmara, um personagem que eu mal me lembrava que existia. Aparentemente as histórias não têm qualquer ligação, e apenas na última página se conecta à trama principal de Arma X (se é que existe tal coisa).

Aqui temos Câmara deprimido por causa do namoro entre Escalpo e Arcanjo. Aparentemente Paige foi namorada do Câmara, mas os relacionamentos entre os X-Men são tão complexos e superficiais que eu não saberia dizer ao certo. O fato é que ele faz o que qualquer pessoa do sexo masculino faria se tivesse poderes mutantes aos 16 anos e estivesse com dor-de-cotovelo: vai para um boteco beber e caçar confusão. O problema é que o Câmara, que eu saiba, não tem 16 anos, embora Frank Tieri certamente tenha essa idade mental no que diz respeito a escrever sobre relacionamentos. De qualquer forma, o que acontece é que os X-Men aparecem para conter o colega que, preso, faz jus a estar na revista Arma X.

Não foi uma história particularmente ruim, embora os desenhos tenham me dado calafrios em alguns quadros. Vide Logan parecendo um segurança de boate na pág 61. O argumento extremamente exagerado se justifica no fim, embora não inteiramente. O Instituto Xavier é uma ótima escola, mas sem dúvida se beneficiaria enormemente de um departamento de psicologia.
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Mística (Mystique #11 – Abr/2004)

Roteiro: Brian K. Vaughan
Desenhos: Manuel Garcia
Arte-final: Raul Fernández
Cores: Matt Milla

Nesta edição termina A Marca do Criador. Ao encontrar o garoto mutante Spencer Brosnon, que se acreditava ter sido seqüestrado, Mística e Forge descobriram que na verdade ele era um mutante capaz de controlar mentes e nada amigável.

A premissa é simples e a execução bem feita. Mística sempre me pareceu uma personagem pouco explorada como vilã dos X-Men, e parece que encontraram uma linha bastante interessante para ela seguir na sua série mensal, embora eu esteja acompanhando há apenas 2 números. Achei legal a forma como Mística é mostrada, meio cínica e sarcástica, de forma que nunca sabemos se ela diz o que realmente pensa ou não. Esse aspecto é bem utilizado na trama quando ela está sendo atacada por Forge e tenta desesperadamente apelar para seus sentimentos.

No mundo de revistas X atuais, essa é uma das poucas que se salva, ao lado de Wolverine, os Novos X-Men, de Grant Morrison; e X-Táticos, de Peter Milligan. O resto não vale o papel em que é impresso.

Wolverine: Snikt!


Panini Comics - Janeiro(#1) e Fevereiro(#2) 2005

Roteiro e Desenhos: Tsutomu Nihei

Como se não bastasse aparecer em todas as revistas X publicadas mensalmente, Wolverine é o personagem que mais vemos estrelando mini-séries e especiais publicadas pela Panini. Aqui está ele em mais uma, publicada em 2 edições (foram 5 no original).

Snikt! foi uma mini muito comentada por ser mais uma tentativa desesperada da Marvel de lucrar com a popularidade dos mangás. A idéia foi criar um mangá com o personagem mais popular da editora, buscando o óbvio: o crescente público de mangás e o perene público do Wolverine. A missão de fazer um casamento tão improvável coube a Tsutomu Nihei, um autor que desconheço, certamente por eu não estar tão ligado no mundo dos mangás.

A premissa é a mais velha possível. Wolverine está calmamente cuidando de sua vida quando uma menina o aborda pedindo que ajude a salvar seu mundo. Antes que possa perguntar porquê, ele é transportado para um mundo dominado por seres malignos conhecidos como Donatários, e os poucos humanos sobreviventes fazem o possível para... hã... sobreviver.

O que se segue é uma quantidade enorme de clichês e lugares-comuns num roteiro extremamente ruim. Tão ruim que a sua previsibilidade é o que menos incomoda. Li as duas edições de uma vez, uma após a outra, e não gastei mais que meia hora. A explicação de porquê Wolverine é o único que pode salvar o mundo é, no mínimo, forçada.

A arte de Nihei, por outro lado, é mais que inspirada. Com certeza alguns fãs do Wolverine vão dizer (com razão) de que o personagem está totalmente diferente da concepção tradicional, mas essa é a maior sacada de Nihei. Neste sentido, ele recriou Wolverine. As cenas de ação são particularmente boas, como se espera de um bom mangá cyberpunk. Sem dúvida um trabalho de primeira, mas às vezes prejudicado pelas cores. Em alguns quadros a cor simplesmente não se encaixa, e fica claro que Nihei não participou do processo de colorização, diferente de Akira, em que Katsuhiro Otomo participou ativamente da colorização feita por Steve Oliff. O resultado é visível. Mas é tão injusto comparar Snikt! a Akira (assim como a qualquer trabalho de qualidade) que tive que me conter para não apagar a última frase. Acho que é uma observação válida.

No fim das contas, Snikt! é totalmente descartável, exceto pela arte. Isso é suficiente para se gastarem R$13,00, nessas duas edições? Depende do gosto de cada um. Eu acho que sim. Pense que está comprando um sketchbook de Tsutomu Nihei, esqueça a trama ridícula e divirta-se.

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Eu amo BH no Carnaval!!!

Putz, mais de uma semana sem atualizar o blog. Semana passada foi tão pauleira que mal consegui desempilhar as HQs "para ler". Mas aproveitando a bênção dos céus que é BH no carnaval (silêncio absoluto, ruas vazias, solzinho de leve... que beleza!!!)estou colocando a leitura em dia.

Comecei pegando umas mais antigas. Hulk: Cinza tava mofando aqui há milênios. Nunca acompanhei as séries mensais do Hulk, mas não é um personagem que me desagrada. Achei a história interessante dentro da proposta dessa série de "começos de carreira" recontados por Loeb e Sale. Aliás, sou fã da arte de Tim Sale, que está excelente como sempre nessa história.

Outra que peguei depois de milênios foi Novos Titãs #1. Não me interesso nem um pouco por essas equipes de super-heróis da DC, então essa revista me passou batido até que os elogios a Geoff Johns ganharam tanto poder que me obrigaram a dar uma olhada. Sinceramente? Nada demais. Mas tenho a Novos Titãs #2 aqui também e preciso conferí-la para ter uma opinião mais embasada. Afinal eu só reconheci Cyborg, Asa Noturna e mais um ou dois gatos pingados na revista, então nem o potencial desses personagens eu conheço.

Por outro lado, o potencial do Batman eu conheço, e posso afirmar sem muitos rodeios que Batman: O Cálice é fraca. Se há uma razão para comprá-la é a arte de John van Fleet, que apesar de meio confusa em alguns quadros, é muito bonita e original. Chuck Dixon é um grande roteirista, mas aqui ao tentar colocar vários personagens na mesma história acabou comprometendo o roteiro. Os personagens pipocam do nada numa trama que, convenhamos, já foi (muito melhor) explorada no cinema (estou pensando especificamente em Indiana Jones e a Última Cruzada e, claro, Monty Python Em Busca do Cálice Sagrado.

Ah, e não nos esqueçamos do maravilhoso mundo X. São 3 mixes reunindo a bagatela de 9 títulos americanos por mês (sem considerar ainda a linha Ultimate e os especiais), o que não é para quem tem estômago fraco. Atualmente minhas únicas excursões prazerosas ao mundo encantado dos mutantes tem sido em Wolverine, que traz a série de Greg Rucka e Darick Robertson. Em Wolverine #2 continua a investigação da morte de Lucy Braddock, com um andamento muito agradável e suspense de primeira à medida que a história caminha para sua conclusão.

Bom, ainda tenho um monte de coisas para ler, incluindo 3 meses de atraso em Batman, X-Men e X-Men Extra, além de alguns mangás. Em paralelo estou sempre relendo coisas velhas que reencontro na prateleira depois de muito tempo. Ou seja, muito o que fazer!

Começo a postar as novas resenhas completas a partir de quinta. Bom carnaval a todos!!!

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Fábulas: Lendas no Exílio


Fables: Legends in Exile - Jan/2003
Devir - Abril 2004

Texto: Bill Willingham
Desenhos: Lan Medina
Arte-final: Steve Leialoha e Craig Hamilton
Cores: Sherilyn van Valkenburgh

Fábulas: Lendas no Exílio é uma coletânea das edições #1 a #5 da série Fables, da Vertigo/DC, e contém o primeiro arco da série.

A premissa de Fábulas é bastante simples: todos os personagens das fábulas e histórias infantis (como a Branca de Neve, o Lobo Mau, o Príncipe Encantado e assim por diante) são obrigados a fugir de sua terra natal quando ela é invadida por um ser maligno de natureza desconhecida conhecido apenas como “O Adversário”. Através de passagens criadas por feiticeiros, pouco a pouco as fábulas que conseguem escapar dos exércitos do Adversário acabam exiladas na Terra, culminando numa enorme comunidade exilada, vivendo escondida em plena Nova York do séc. XXI. Esse submundo imperceptível para os mundanos (ou seja, personagens não-fábulas) é carinhosamente chamado de "Cidade das Fábulas", e é o cenário onde se passa a história.

Lendas no Exílio surpreende um pouco pelo enredo, essencialmente uma história policial. Tudo começa quando o delegado da Cidade das Fábulas, Bigby Lobo (vulgo Lobo-Mau), recebe a notícia do desaparecimento da irmã da Branca de Neve, Rosa Vermelha. Branca de Neve, que é uma vereadora da Cidade, embora detenha status político bem superior, pretende usar de sua influência para ajudar o Lobo a resolver o mistério. E assim começamos a nos embrenhar neste curioso mundo habitado por personagens tão familiares e diversos como os Três Porquinhos (ou ao menos um deles), a Bela, a Fera, o Barba-Azul, o Príncipe Encantado e o Pinóquio. Mas não se engane. Não há nada de infantil e ingênuo nesses personagens ao serem vistos sob a ótica sarcástica e ao mesmo tempo gentil de Willingham.

O tratamento dos personagens é sem dúvida o ponto alto da série, especialmente se nos lembramos de suas histórias e interpretações clássicas infantis (leia "Disney"). É muitíssimo interessante a forma como Willingham revisita os "finais felizes" das fábulas. Por exemplo, a história começa com uma audiência entre a Bela, seu marido, a Fera, e a Branca de Neve. A Fera está com o seu aspecto bestial, o que é um problema, pois ter uma aparência inumana não é permitido entre as fábulas. Mas a questão é um problema conjugal, pois toda vez que o entusiasmo da Bela com a relação diminui, a Fera volta ao seu estado animalesco. "Você já tentou ficar casada por mil anos sem passar por alguns altos e baixos?", questiona a Bela no auge da discussão. Duvido que alguém tenha pensado nisso ao escrever o "viveram felizes para sempre".

O mundo das fábulas é tão rico de possibilidades que isso acaba por ser o fator água-fria dessa edição. Infelizmente nós nem sequer arranhamos a superfície do mundo das fábulas. O arco foca como protagonistas o Lobo e a Branca de Neve. Ele é retratado como um solitário convicto, pouco sociável, altamente perspicaz e guiado por um inabalável senso de dever e responsabilidade. Ela é o típico arquétipo da mulher "vencedora" dos filmes românticos: profissional bem sucedida, segura de si, esperta, mas com uma vida amorosa desastrada que eventualmente vai se acertar – exceto que aqui o Príncipe Encantado não é mais uma opção, já que se mostrou um pouco encantador demais no passado.

Infelizmente somos apresentados muito rapidamente aos eventos passados, e ficamos a imaginar como se deu a transição dos personagens das histórias infantis para sua versão Vertigo. O único que conhecemos um pouco melhor é mesmo o Lobo, graças ao adendo Um Lobo na Comunidade, texto de Willingham que nos conta como o Lobo foi parar na Cidade das Fábulas.

A arte de Lan Medina não é particularmente espetacular, mas faz um bom trabalho ao transpor as imagens tradicionais dos personagens para sua versão moderna. Me impressionaram mais os cenários e monstros que os personagens humanos, que parecem demasiadamente estáticos.

O álbum faz parte da mais que bem-vinda (e necessária) aposta da Devir em lançar títulos com conteúdo e formato adulto. A qualidade gráfica do trabalho é primorosa, embora haja deslizes na parte editorial, especialmente o adendo Um Lobo na Comunidade, que parece ter sido adaptado preguiçosamente de uma tradução lusitana. Não chega a inviabilizar o entendimento do texto, mas certamente restringe e desencoraja o acesso ao mesmo.

Fábulas: Lendas no Exílio é uma divertida leitura, e nos apresenta a um mundo de inúmeras possibilidades. Como volume único é insuficiente, mas ao se considerar que é apenas o arco inicial de uma série mensal, é sem dúvida um ótimo começo.


Wolverine #1


Panini Comics - Janeiro, 2005

A Panini finalmente lança Wolverine, a revista mensal do personagem mais popular e onipresente dos X-Men. Sob o pretexto de publicar "a elogiada fase de Greg Rucka", como vem sendo anunciado há meses, a editora faz uma jogada de marketing bem pensada, matando uma de suas revistas de pior vendagem, Arma X, e reunindo suas sobras (as séries Mística e Arma X) numa revista que certamente irá ter maior apelo popular. Tenho que confessar que não acompanhava Arma X, logo não fazia idéia do que esperar de Arma X e Mística. Aliás, nem de Wolverine. Tendo isso em mente, não posso dizer que me decepcionei.

Nessa primeira edição nacional, a Painini juntou os dois primeiros números da série americana de Wolverine, o que ajudou a ter uma opinião mais embasada dessa nova fase do herói.

Wolverine (Wolverine #1 – Jul/2003)
Roteiro: Greg Rucka
Arte: Darick Robertson

Eu não acompanhava as histórias do Wolverine em X-Men, da Panini, então não faço idéia em que pé estava, mas não vai fazer diferença. A cronologia de Wolverine foi "zerada" nos EUA mais para enfatizar uma mudança de equipe criativa do que por qualquer outra coisa. Eles gostam de fazer isso de vez em quando também para especular com os colecionadores. Todo mundo gosta de dizer que tem o número 1 de uma série qualquer.

Minha visão do Wolverine como personagem é neutra. Me parece um personagem que foi esvaziado nos últimos anos, completamente privado de suas características originais. No entanto, ainda tem muito potencial quanto a seu passado muito visitado, mas pouco explorado pelos seus roteiristas. Prova cabal disso são as minis Origem, de Paul Jenkins e Andy Kubert; e Arma X, de Barry Windsor-Smith, esta uma das minhas histórias favoritas da Marvel, apesar do final um pouco decepcionante.

A primeira surpresa de Wolverine #1 é a arte de Darick Robertson já na primeira página, mostrando o personagem bem mais baixo e troncudo do que vinha sendo feito ultimamente (inclusive com a versão Hugh Jackman no cinema). O Wolverine de Robertson me parece muito mais fiel à concepção original do que muitos gostariam que fosse. A arte é muito boa, e foi o que me manteve interessado durante as primeiras páginas, enquanto a história ainda não tinha engrenado.

A história é contada do ponto de vista de Lucy, uma garçonete que passa toda essa edição observando Wolverine e imaginando se ele seria como ela pensava, e se poderia ajudá-la quando a hora chegasse.

Não há um enredo propriamente dito nessa edição, mas isso não importa. Rucka e Robertson estão claramente ambientando o leitor na sua visão do Wolverine e dando o tom da história. Ela será sombria, sangrenta, e alguém vai pagar caro pelo que fez.

Achei particularmente curioso como Rucka nos diz coisas sobre o Wolverine que nunca imaginamos. Ele é uma traça de livros, e dos mais ecléticos. Nesta edição devora Thoreau, Poe, Chomsky e, é claro, Greg Rucka. Uma peculiaridade que me provocou um discreto sorriso e a impressão de que essa série poderá ser das mais interessantes da carreira do velho canadense.
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Wolverine (Wolverine #2 – Ago/2003)
Roteiro: Greg Rucka
Arte: Darick Robertson

A primeira página da revista mostra a versão de Rucka e Robertson de uma das peculiaridades que mais deu o que falar nos fóruns de fãs pela Internet: como funciona o fator de cura de Wolverine caso ele leve um tiro? A celeuma foi criada pela cena de X-Men 2 em que, após atingir o Wolverine na cabeça, a bala é repelida pelo seu corpo, que se regenera imediatamente. Aqui temos uma versão muitíssimo mais interessante e (por quê não?) realista: o tecido se regenera em volta da bala, que é extraída "manualmente" pelo velho carcaju. Mais uma grande sacada de Rucka e Robertson.

Nesta edição Wolverine inicia a investigação da morte de Lucy Braddock, a garçonete que sabia que algo muito ruim iria acontecer e o deixou uma carta de adeus em que a única coisa que pedia era que ele não a esquecesse. Essa investigação vai levá-lo ao mundo da venda e tráfico de armas, que é um assunto quente nos EUA. A cena da convenção de negociantes de armas é ricamente ilustrada, nos dando uma ambientação perfeita para o desenrolar na história. É possível ver todo tipo de figura que se esperaria num lugar desse, e é impossível não perceber (tanto pelos desenhos como pelos diálogos) de que lado estão Rucka e Robertson no debate sobre o porte de armas.

A palavra final é que este início da fase de Rucka com o Wolverine superou de longe minhas expectativas, bastante baixas para um personagem tão deturpado e mal utilizado ao longo dos anos. Até aqui é uma bela obra.
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Arma X (Weapon X #14 – Dez/2003)
Roteiro: Frank Tieri
Desenhos: Paul Leon
Arte-final: Tommy Lee Edwards
Cores: Tom Breevort

Como já avisei anteriormente, não estou seguindo a cronologia de Arma X, mas já que comprei a revista e li a história, resolvi fazer uma pequena resenha.

Em uma linha: não é medonho.

Elaborando um pouco mais, eu jamais pensei que seria capaz de ler até o fim uma história de Arma X, mas para minha surpresa, eu consegui. Talvez a explicação seja que este é um número atípico. Ele se passa em 1944, e mostra o Sr. Sinistro como um cientista que salva prisioneiros de campos de concentração para usá-los em seus experimentos, numa bizarra mistura de Schindler e Mengele.

O que o Sr. Sinistro está fazendo numa história da Arma X, eu não faço idéia. A coluna Anteriormente me diz que ele está interessado em criar uma espécie superior por meio de manipulação genética, então precisa de um suprimento constante de cobaias mutantes. Mutantes esses que são seres de uma espécie superior criada por mutações genéticas. Sacou a lógica?

Bom, não vou me alongar aqui porque nem tenho base para criticar o enredo da série. Essa história em particular é bem razoável, em especial pela arte, que deu um ar de agravamento sem dúvida importante para o estabelecimento de um ambiente minimamente dramático para a ação.
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Mística (Mystique X #11 – Abr/2004)
Roteiro: Brian K. Vaughan
Desenhos: Manuel Garcia
Arte-final: Raul Fernández
Cores: Mattt Milla

Assim como Arma X (a série), eu também ignoro completamente o estágio cronológico em que se encontra Mística, simplesmente porque Arma X (a defunta revista) tinha um mix muito bizarro para o meu gosto. Mas pelo menos eu estava curioso para ler a Mística de Vaughan, série de que já tinha ouvido falado bem.

Aqui eu não diria que minhas expectativas foram superadas, mas ao menos não me decepcionei. A premissa me parece interessante: Mística foi "recrutada" por Xavier para fazer seu trabalho sujo. Mas ele tem algum...?

Essa edição não lida com o complicado enredo de espionagem e contra-espionagem que o editor Fernando Lopes descreve na seção de cartas, se resumindo a ser uma história de ação. Mística e Forge recebem a missão de encontrar um garotinho mutante que foi seqüestrado. A partir daí acontecem boas surpresas, e a história flui num ritmo bem agradável.

A arte de Manuel Garcia e Raul Fernández é boa e se encaixa muito bem na história, especialmente nas cenas de ação, em que consegue passar a sensação de movimento e fluidez com muita competência.

Sem entrar no mérito do enredo principal, que como eu disse, não deu as caras por aqui, essa história é um bom passa-tempo confiando apenas numa boa história, sem ser pretensioso ou arrogante. Melhor que a maioria dos “títulos X” que andam sendo publicados por aqui.

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Próximas resenhas

Minha pilha de quadrinhos para ler está enorme mas simplesmente não encontro tempo, graças a Rome: Total War, que vem sugando boa parte do meu tempo livre. Estou terminando de ler Fábulas: Lendas no Exílio, álbum publicado pela Devir, e devo escrever uma resenha para ele no fim-de-semana.

Das séries mensais que acompanho ainda falta ler várias de Janeiro (bendita distribuição setorizada), algumas das quais não valem nem o tempo que eu vou gastar para ler, muito menos escrever a respeito. Vou tentar escrever uma resenha de Wolverine #1, apenas pelo fator hype, e também quero comentar alguma coisa sobre Lobo Solitário #1. As demais revistas da Panini vã direto para a estante chamada "Para Nunca Ler Novamente".

Também pretendo fazer as resenhas de 100 Balas, que é uma das minhas séries favoritas atualmente, mas ainda estou 3 meses atrasado na cronologia. Vou postar uma resenha das edições #28 - #30, que é um arco fechado, e depois vejo como fazer da #31 à #33, porque eu ainda não comprei essas (R$7,90 por 32 páginas é foda...)


quarta-feira, janeiro 26, 2005

Demolidor #12


Panini Comics - Janeiro 2005

Demolidor (Daredevil #49 – Set/2003)
Roteiro: Brian Michael Bendis
Arte: Alex Maleev
Cores: Matt Hollingsworth

O penúltimo episódio do arco Barra Pesada talvez seja um dos mais marcantes da história recente do Demolidor. A edição começa tensa, com Murdock, ainda mal recuperado do confronto com Mary Tyfoid, novamente se despedindo de Milla. Ele pretende investigar a situação após a investida do Rei do Crime, que tentava ganhar tempo para se reorganizar. Milla, então sozinha no apartamento de Matt, é abordada pelo Mercenário, que pretende fazer com a moça o mesmo que fez com Elektra e Karen Page, só que agora ele quer “curtir” cada minuto. Matt retorna no momento exato, e o que se vê a partir daí é uma surra sem tamanho.

O Mercenário é um dos maiores vilões das histórias do Demolidor, atrás somente de Wilson Fisk, o Rei do Crime. Pegas entre os dois já aconteceram várias vezes, mas nada parecido com a surra que presenciamos nesta edição. O que nos leva a pensar. Qual exatamente foi o propósito de Bendis ao trazer para a trama um vilão do calibre do Mercenário apenas para ser surrado durante uma edição inteira, em que ele mal oferece resistência? Qual o impacto dessa surra na trama? Dar uma sova no Coruja é uma coisa, mas o Mercenário... para se ter uma idéia, foram necessários o Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage para derrubar Mary Tyfoid em Demolidor #11. E eu não apostaria nela num pega com o Mercenário.

A única explicação que me ocorre é que Bendis queria escrever uma luta entre o Demolidor e o Mercenário antes de terminar sua passagem pelo título. Faltando apenas duas edições, não dava tempo de fazer muita coisa. Ao que parece, 12 páginas eram suficientes apenas para Matt descer o sarrafo, e nada mais.

Tirando esse aspecto, é fantástica a caracterização do estado psicológico de Matt. Desde que sua identidade foi exposta de vez e ele vem sendo assediado por tudo que é lado, Matt nunca está calmo. A impressão é que ele está se contendo, tenso, esperando uma válvula de escape. Ao confrontar os vilões, ele age como alguém que já não agüenta mais toda a pressão e quando estoura, é para arrebentar. A sensação de ódio profundo que Maleev e Bendis criam ao mostrar o Demolidor marcando a testa do Mercenário é poderosa. Raras vezes vi momentos tão dramáticos nos quadrinhos de super-heróis. Este é o ponto alto da edição.

Barra Pesada termina na próxima edição de Demolidor, encerrando a fase de Bendis como roteirista regular do título, que será assumido por David Mack. Espero que a última edição faça jus à sua brilhante passagem pelo Demolidor. Aguardemos.
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Justiceiro (The Punisher #36 – Jan/2004)
Roteiro: Garth Ennis
Arte: John McRea e CrimeLab Studios
Cores: Avalon Studios

Continua o arco A Confederação dos Tolos, co-estrelando os “três patetas” (Wolverine, Demolidor e Homem-Aranha). Empenhados em levar Frank Castle à justiça por... bem, por matar a torto e a direito, os três já se deram mal nesse arco. Wolverine foi partido ao meio ao ser atingido por um míssil, o Aranha ficou preso numa armadilha e o Demolidor teve seu ombro deslocado ao ser arremessado de uma janela. Enquanto enfrenta essa oposição nada desprezível, Castle mantém um personagem amnésico (que estava sendo leiloado por 5 milhões de dólares) num galpão. Ao final dessa edição ficamos sabendo quem é o tal rapaz, e os planos de Castle para ele ficam claros.

Esse arco tem um certo componente lúdico envolvido. Se ele for encarado como um "what if", ou como um "elseworld", pode até ser divertido. Seria algo como "o que aconteceria se" Demolidor, Wolverine e o Homem-Aranha fossem idiotas, descuidados e trapalhões, e se juntassem para pegar Frank Castle no auge de sua forma. Agora, dentro da cronologia normal da Marvel, esse arco é simplesmente ruim. Em qualquer arco, ter três dos personagens mais icônicos da editora trabalhando juntos seria o pesadelo de qualquer oponente. Menos do Frank Castle de Garth Ennis, pelo visto.

Eu não sou nenhum fã ardoroso dos super-heróis Marvel, nem um purista que acha que os personagens devem sempre ser tratados da mesma forma. Não se trata de dar chilique por ver Ennis espezinhar sobre meus personagens favoritos (eles não o são). É uma simples constatação de falha na continuidade. Não há como essa história caber na cronologia do Demolidor, do Wolverine ou do Homem-Aranha. Claramente o público-alvo aqui são os fãs do Justiceiro. Mais ainda, os fãs de Garth Ennis, que falam “amém” para tudo o que ele faz.

Eu aprecio o trabalho de Ennis desde seu início na Vertigo e o considero um dos mestres dos quadrinhos de horror. Sua fase na Vertigo foi primorosa. Seu trabalho na série do Justiceiro era ótimo, até que em algum momento a coisa desandou. Eu garanto, ele raramente erra a mão como neste arco. Porque aqui ele erra muito.

Ainda que levemos em conta minha sugestão de tomar essa série como um “elseworlds”, a coisa não melhora muito. Você pode até se divertir com as patetadas dos heróis, mas muito pouco existe em termos de enredo. Se considerarmos que este foi o último arco de Ennis no Justiceiro antes da passagem para o selo MAX, fica ainda mais difícil entender o propósito disso tudo. A não ser que algo muito surpreendente aconteça na última edição, o que duvido muito.

Para finalizar, é digna de nota a péssima arte de John McRea (que, pelos créditos dados ao seu estúdio, deve ter sido auxiliado por uns 30 outros artistas medíocres para terminar a edição). A arte de McRea poderia ser a versão da MAD de uma história séria. Aliás, o roteiro de Ennis também.
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Elektra (Elektra #34 – Mai/2004)
Roteiro: Robert Rodi
Arte: Steven Cummings
Arte-final: Sandu Florea
Cores: Avalon Studios

Termina o arco Febre, que apesar de não ter sido tão medonho quanto muitos afirmam, foi apenas mais do mesmo. Elektra é capturada por Bezzubenkov e começa a delirar feio, enxergando como o “deus da morte” qualquer pessoa que se aproxime dela. Na tentativa de matar o “deus”, ela acaba detonando todo mundo sem saber...

Elektra foi cancelado após a edição 35, então ainda veremos a despedida da ninja em Demolidor, mês que vem. As causas do cancelamento não são poucas, e no entanto não são facilmente enumeráveis. Mas vou opinar um pouco.

Meu palpite é que o principal problema é a unidimensionalidade da Elektra atual. A premissa da série é que Elektra foi ressuscitada, se tornou uma assassina fria, cruel e... bom, unidimensional. Não há conflitos, não há dúvidas, não há um pingo de desenvolvimento da personagem em sua própria série. É apenas uma seqüência de “missões” desconexas, num enredo que se assemelha muito a o de um videogame de pancadaria. Nesses moldes, não há personagem que consiga carregar uma série nas costas.

O fato é que Elektra é um personagem de segundo escalão, originalmente uma coadjuvante, que não tem uma galeria de vilões ou aliados. Junte a isso uma trama inexistente, sem qualquer importância em termos de cronologia (é sempre mais um trabalho, levando a outro trabalho, levando a...) e dispa a personagem de toda a sua complexa personalidade. Parabéns, você criou mais um fiasco editorial. Assim foi Elektra, que para os padrões americanos, até que durou muito. A série manteve um padrão no mínimo regular em termos de arte e os roteiros de Bob Rodi, que acabou como roteirista fixo do título, proporcionaram bons momentos de ação, mas nada que chegasse perto do potencial da personagem.

Elektra foi criada por Frank Miller e só ele a conhece por inteiro. Ele foi o único autor capaz de fazer dela uma personagem digna de nota. Para todos os outros roteiristas, ela é apenas uma máquina de matar, com um mínimo de personalidade. Miller e os fãs que a conhecerem através da sua arte sabem que ela é muito mais que isso.


terça-feira, janeiro 25, 2005

Marvel MAX #17



Panini Comics - Janeiro 2005

Marvel MAX é considerada por uns o melhor mix da Panini atualmente. Eu concordo, mas por W.O. Os outros mixes são tão ruins que fica fácil...

Poder Supremo (Supreme Power #12 – Out/2004)
Roteiro: J. Michael Straczynski
Desenhos: Gary Frank
Cores: Chris Sotomayor

Chega ao fim o primeiro “arco” de Poder Supremo (se é que se pode chamar de “arco” 12 edições que terminam com um “continua...”), série mais que aclamada por público e crítica, embora eu não entenda muito bem o porquê. Contada em forma de quatro histórias paralelas num curioso recurso argumentativo, a história deixa a já conhecida sensação de que “agora a coisa começa”, o que não é nenhuma novidade para quem acompanha regularmente a série. É mais do mesmo.

Em 12 edições, Straczynski trabalhou na apresentação e construção de seus personagens, especialmente Hipérion, mas não foi muito longe na criação de uma trama. A cada nova edição, novas questões são levantadas, novos personagens introduzidos, pontas soltas são mostradas, num excepcional esboço de alguma trama que simplesmente não acontece. E nossa expectativa se transporta automaticamente para a edição seguinte. Exceto neste caso, pelo fato de que não há edição seguinte, pois não há mais edições publicadas de Poder Supremo nos EUA. Supõe-se que pelo menos 6 meses se passem até que a série volte a ser publicada pela Panini, o que leva à desconfortável constatação de que terei que reler o “arco inicial” novamente quando esse momento chegar. Mas vamos à história.

Nessa edição, como eu disse, temos quatro histórias paralelas. Na primeira, Zarda (a personagem cujas medidas desmentem quem diz que a arte de Gary Frank é realista) e Hipérion se despedem, e ela sai para fazer “comprinhas”. Na segunda, o Falcão Noturno e o Borrão de Atlanta começam a investigar uma série de assassinatos em Chicago, aparentemente praticados por alguém com “poderes supremos” e que “gosta de matar” (sim, algum supervilão). Na terceira temos a dose mensal de conspiração governamental de Straczynski, assim como sua dose mensal de diálogos em que muito é dito e pouco é explicado. A última história é sem dúvida a mais interessante. Quadro após quadro há sempre o mesmo cenário: uma casinha de campo isolada, em que algo muito ruim parece tomar corpo.

Poder Supremo é o curioso caso de uma série que era muito promissora no número 1, e continua muito promissora no número 12. Isso não é um elogio. A série não consegue corresponder à perene expectativa de que algo muito legal vai acontecer. A qualidade de um bom roteirista também passa por saber quando a introdução termina e a história propriamente dita começa. Straczynski nos deu 12 edições que são a introdução do que parece ser uma boa história. Resta saber se um dia a história vai começar.
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Alias (Alias #17 – Fev/2003)
Roteiro: Brian Michael Bendis
Desenhos: Michael Gaydos
Cores: Matt Hollingsworth

Alias é mais uma série que se propõe a mostrar super-heróis de forma “realista”, mas dessa vez contando com a maestria de Brian Bendis e Michael Gaydos, o que não é pouco. A série segue o dia-a-dia de Jessica Jones, uma investigadora particular com uma característica incomum: ela é uma “ex-super-heroína”.

Nessa edição temos a segunda parte do arco Intimidade, contada em forma de um flashback. Jessica continua investigando por que Mattie Franklin, a Mulher-Aranha, invadiu seu apartamento e por que não ficou para um café. Como em geral acontece, ela acaba se envolvendo emocionalmente com a história e a coisa toma um rumo inesperado. Nesta edição fica claro o que todos já imaginavam. Jessica tem algo mais que um simples esqueleto no armário, que só agora começa a vir à tona.

Alias é minha série favorita atualmente, sem sombra de dúvida. Bendis consegue dar dimensão humana aos super-heróis de forma completamente diferente do tratamento habitual. Na maioria das historias que tratam super-heróis de forma “realista”, temos o eterno conflito de como os poderes afetam o herói e todos ao seu redor; temos a eterna questão de até que ponto vale a pena arriscar a sua vida e de seus entes queridos para salvar desconhecidos; temos todo tipo de “ser ou não ser”, muito sofrimento e lamentações. Vide a eterna lamúria dos X-Men de Chris Claremont.

Em Alias, pouco importam os poderes da heroína Jessica Jones. Na verdade conhecemos muito mais suas paranóias que suas virtudes, e é isso que faz a série funcionar mesmo sem rompantes de ação e supervilões mascarados. Jessica já resolveu boa parte de seus conflitos de super-herói, e da forma mais radical possível. Ela não quer ser um deles, e ponto final. O que a levou a essa decisão é algo que ainda será explorado na série, mas o fato é que seus conflitos são um pouco mais profundos, e encarnam a enorme riqueza de sensações e sentimentos meramente humanos.

Do ponto de vista da execução, Alias é também primorosa. A arte de Gaydos deve dar calafrios nos fãs de Jim Lee e Marc Silvestri, o que é sempre boa coisa. As ambientações de Gaydos são densas e escuras, num minimalismo que nos obriga a encarar cada personagem face a face. Não há saída: nada de músculos hipertrofiados, seios inflados ou cores berrantes para desviar nossa atenção. Apenas rostos cujas expressões mais que ilustram os diálogos de Bendis. Elas os levam um patamar acima, escancarando um mundo de emoções em cada quadro.

Outro ponto positivo de Alias é a habilidade com que Bendis utiliza personagens esquecidos nos porões da Marvel. Componentes do que poderia ser visto como o terceiro escalão da editora, o Homem-Formiga, a (terceira) Mulher-Aranha e a Madame Teia na mesma história seriam motivo de riso há alguns anos. Não aqui. Mesmo quando utiliza personagens consagrados como J.J. Jameson ou o Capitão América, Bendis consegue desconstruir o estereótipo sem destruir o mito, coisa que Garth Ennis, por exemplo, não consegue.

A riqueza de sensações, a inteligência das situações e o respeito à continuidade fazem de Alias uma das melhores séries já produzidas pela Marvel.
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Thor: Vikings (Thor: Vikings #3 – Dez/2003)
Roteiro: Garth Ennis
Desenhos: Glenn Fabry
Cores: Paul Mounts

Continua a história da horda de guerreiros vikings do séc. XI que, após serem amaldiçoados por um feiticeiro a vagarem a esmo por mil anos, chegam à Nova York atual causando uma infindável onda de destruição e morte. O Dr. Estranho (tendo Thor como mero espectador) reuniu através da história três guerreiros, descendentes do feiticeiro que amaldiçoou os vikings, para lançar o contra-ataque.

Garth Ennis já foi meu ídolo. No início dos anos 90, época em que as histórias de super-heróis estavam em franca decadência (para se ter uma idéia a Marvel estava prestes a falir e a Image era vendida como a salvação do mercado dos quadrinhos, com suas séries “originais” e artistas “talentosos”), o selo Vertigo, da DC, lançava séries inteligentes e desafiadoras com temática adulta. Superado em popularidade apenas por Sandman e Hellblazer, Preacher revelou ao mundo dos quadrinhos o talento do irlandês cuja criatividade e propensão para o grotesco não poupavam religião, moral ou bons costumes. Escrever quadrinhos de horror não é para qualquer um, e Ennis o faz com maestria. Foram também dele alguns dos arcos memoráveis de John Constatine, incluindo o clássico "Dangerous Habits" (em Hellblazer #41-46, 1991; no Brasil "Hábitos Perigosos", em Vertigo #1-3, 1995).

Na Marvel, desde que assumiu o título mensal do Justiceiro, Ennis vem mantendo sua fama com a fórmula que parece nunca envelhecer: partes do corpo separadas umas das outras e muito linguajar “adulto”. Thor: Vikings não vai tanto na direção do linguajar, mas o que mais vemos são pedaços voando.

Desde o primeiro número era fácil perceber que essa não é uma série sobre como Thor vai debelar o ataque dos vikings, mas uma série sobre como Ennis e Glenn Fabry são bons em fazer histórias ultra-violentas. Eles são os protagonistas da série, e não Thor. Não que eu tenha um problema com isso. Afinal, sou muito mais fã de Ennis que de Thor, mas algumas coisas não estão certas aqui.

O grande problema de Thor: Vikings é justamente a questão do protagonista. A história sofre daquilo que Paul O’Brien, do site The X-Axis, chama de “síndrome do protagonista intercambiável”: uma história que poderia ser estrelada por qualquer super-herói, sem a necessidade de qualquer alteração no roteiro. A série poderia muito bem se chamar Homem de Ferro: Vikings, ou Wolverine: Vikings, ou Qualquer Outro Personagem: Vikings, bastando mostrar que os poderes do herói são inúteis contra o indestrutível Jaelkesson, o Dr. Estranho vindo ao seu auxílio, reunindo um bando de guerreiros através do tempo e... bom, deu para passar a idéia.

Por razões óbvias, Thor foi o herói escolhido, mas em momento algum Ennis utiliza a figura do deus nórdico como parte do enredo. Jaelkesson reconhece Thor como o deus do trovão, mas isso não faz a menor diferença para ele, assim como não faz para Thor lutar contra aqueles que, eu diria, são o seu povo. Eu gostaria que o encontro fosse tratado de forma menos óbvia, e suas implicações exploradas mais a fundo. Mas aqui a coisa se trata de mostrar seres humanos de dentro para fora (literalmente), e não há espaço para sutilezas. Eu entendo, mas não gosto.

Ennis também é notório por seu desprezo pela caracterização fiel e respeito à continuidade dos super-heróis da Marvel. Sempre que um deles surge como coadjuvante em Justiceiro, é apenas para apanhar e ser ridicularizado. Aqui não é diferente com o deus do trovão, que acaba sendo um coadjuvante na sua própria história, tendo o Dr. Estranho como o verdadeiro herói. Não pude deixar de sorrir ao ler a passagem em que o Dr. Estranho ferve uma mistura num caldeirão, que faz com que todos os que bebam adquiram força sobre-humana. Os vikings de Jaelkesson não seriam páreo para os guerreiros daquela pequena aldeia gaulesa...

Ficamos então aguardando o desfecho da série, com a certeza de que muito sangue e vísceras ainda irão rolar. E nada mais que isso.

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Esse blog tá horrível

Esse template tá um lixo, mas foi o mais legível que achei. Quando tiver um tempinho e alguma paciência eu vou tentar fazer um logo decente, em vez desse troço horrível que tá aí. Grato pela compreensão...

Primeiro post do blog

Acho que esse post é necessário, afinal não tem nada aqui e seria interessante escrever qualquer coisa só pra ver se a coisa anda. Bom, eu leio HQs há quinhentos anos, e sempre tive amigos que também curtiam quadrinhos e estavam dispostos a trocar idéias sobre o assunto. Até que a velhice e a distância foram tornando as discussões cada vez mais raras, e ler HQs sem ter com quem comentar é muito chato. Daí comecei a participar de fóruns, e acabei tendo a brilhante idéia de fazer um site com minhas resenhas de HQs. Como não tive saco nem tempo para criar um site, resolvi fazer um blog mesmo, que é horrível, dá preguiça de editar, mas tá pronto. Num fim-de-semana desses eu arrumo tempo para fazer o site. Até lá vou postando por aqui minhas resenhas. Meu objetivo não é nada pretensioso, apenas trocar idéias e opiniões. Taí, curto e grosso!