quarta-feira, janeiro 26, 2005

Demolidor #12


Panini Comics - Janeiro 2005

Demolidor (Daredevil #49 – Set/2003)
Roteiro: Brian Michael Bendis
Arte: Alex Maleev
Cores: Matt Hollingsworth

O penúltimo episódio do arco Barra Pesada talvez seja um dos mais marcantes da história recente do Demolidor. A edição começa tensa, com Murdock, ainda mal recuperado do confronto com Mary Tyfoid, novamente se despedindo de Milla. Ele pretende investigar a situação após a investida do Rei do Crime, que tentava ganhar tempo para se reorganizar. Milla, então sozinha no apartamento de Matt, é abordada pelo Mercenário, que pretende fazer com a moça o mesmo que fez com Elektra e Karen Page, só que agora ele quer “curtir” cada minuto. Matt retorna no momento exato, e o que se vê a partir daí é uma surra sem tamanho.

O Mercenário é um dos maiores vilões das histórias do Demolidor, atrás somente de Wilson Fisk, o Rei do Crime. Pegas entre os dois já aconteceram várias vezes, mas nada parecido com a surra que presenciamos nesta edição. O que nos leva a pensar. Qual exatamente foi o propósito de Bendis ao trazer para a trama um vilão do calibre do Mercenário apenas para ser surrado durante uma edição inteira, em que ele mal oferece resistência? Qual o impacto dessa surra na trama? Dar uma sova no Coruja é uma coisa, mas o Mercenário... para se ter uma idéia, foram necessários o Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage para derrubar Mary Tyfoid em Demolidor #11. E eu não apostaria nela num pega com o Mercenário.

A única explicação que me ocorre é que Bendis queria escrever uma luta entre o Demolidor e o Mercenário antes de terminar sua passagem pelo título. Faltando apenas duas edições, não dava tempo de fazer muita coisa. Ao que parece, 12 páginas eram suficientes apenas para Matt descer o sarrafo, e nada mais.

Tirando esse aspecto, é fantástica a caracterização do estado psicológico de Matt. Desde que sua identidade foi exposta de vez e ele vem sendo assediado por tudo que é lado, Matt nunca está calmo. A impressão é que ele está se contendo, tenso, esperando uma válvula de escape. Ao confrontar os vilões, ele age como alguém que já não agüenta mais toda a pressão e quando estoura, é para arrebentar. A sensação de ódio profundo que Maleev e Bendis criam ao mostrar o Demolidor marcando a testa do Mercenário é poderosa. Raras vezes vi momentos tão dramáticos nos quadrinhos de super-heróis. Este é o ponto alto da edição.

Barra Pesada termina na próxima edição de Demolidor, encerrando a fase de Bendis como roteirista regular do título, que será assumido por David Mack. Espero que a última edição faça jus à sua brilhante passagem pelo Demolidor. Aguardemos.
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Justiceiro (The Punisher #36 – Jan/2004)
Roteiro: Garth Ennis
Arte: John McRea e CrimeLab Studios
Cores: Avalon Studios

Continua o arco A Confederação dos Tolos, co-estrelando os “três patetas” (Wolverine, Demolidor e Homem-Aranha). Empenhados em levar Frank Castle à justiça por... bem, por matar a torto e a direito, os três já se deram mal nesse arco. Wolverine foi partido ao meio ao ser atingido por um míssil, o Aranha ficou preso numa armadilha e o Demolidor teve seu ombro deslocado ao ser arremessado de uma janela. Enquanto enfrenta essa oposição nada desprezível, Castle mantém um personagem amnésico (que estava sendo leiloado por 5 milhões de dólares) num galpão. Ao final dessa edição ficamos sabendo quem é o tal rapaz, e os planos de Castle para ele ficam claros.

Esse arco tem um certo componente lúdico envolvido. Se ele for encarado como um "what if", ou como um "elseworld", pode até ser divertido. Seria algo como "o que aconteceria se" Demolidor, Wolverine e o Homem-Aranha fossem idiotas, descuidados e trapalhões, e se juntassem para pegar Frank Castle no auge de sua forma. Agora, dentro da cronologia normal da Marvel, esse arco é simplesmente ruim. Em qualquer arco, ter três dos personagens mais icônicos da editora trabalhando juntos seria o pesadelo de qualquer oponente. Menos do Frank Castle de Garth Ennis, pelo visto.

Eu não sou nenhum fã ardoroso dos super-heróis Marvel, nem um purista que acha que os personagens devem sempre ser tratados da mesma forma. Não se trata de dar chilique por ver Ennis espezinhar sobre meus personagens favoritos (eles não o são). É uma simples constatação de falha na continuidade. Não há como essa história caber na cronologia do Demolidor, do Wolverine ou do Homem-Aranha. Claramente o público-alvo aqui são os fãs do Justiceiro. Mais ainda, os fãs de Garth Ennis, que falam “amém” para tudo o que ele faz.

Eu aprecio o trabalho de Ennis desde seu início na Vertigo e o considero um dos mestres dos quadrinhos de horror. Sua fase na Vertigo foi primorosa. Seu trabalho na série do Justiceiro era ótimo, até que em algum momento a coisa desandou. Eu garanto, ele raramente erra a mão como neste arco. Porque aqui ele erra muito.

Ainda que levemos em conta minha sugestão de tomar essa série como um “elseworlds”, a coisa não melhora muito. Você pode até se divertir com as patetadas dos heróis, mas muito pouco existe em termos de enredo. Se considerarmos que este foi o último arco de Ennis no Justiceiro antes da passagem para o selo MAX, fica ainda mais difícil entender o propósito disso tudo. A não ser que algo muito surpreendente aconteça na última edição, o que duvido muito.

Para finalizar, é digna de nota a péssima arte de John McRea (que, pelos créditos dados ao seu estúdio, deve ter sido auxiliado por uns 30 outros artistas medíocres para terminar a edição). A arte de McRea poderia ser a versão da MAD de uma história séria. Aliás, o roteiro de Ennis também.
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Elektra (Elektra #34 – Mai/2004)
Roteiro: Robert Rodi
Arte: Steven Cummings
Arte-final: Sandu Florea
Cores: Avalon Studios

Termina o arco Febre, que apesar de não ter sido tão medonho quanto muitos afirmam, foi apenas mais do mesmo. Elektra é capturada por Bezzubenkov e começa a delirar feio, enxergando como o “deus da morte” qualquer pessoa que se aproxime dela. Na tentativa de matar o “deus”, ela acaba detonando todo mundo sem saber...

Elektra foi cancelado após a edição 35, então ainda veremos a despedida da ninja em Demolidor, mês que vem. As causas do cancelamento não são poucas, e no entanto não são facilmente enumeráveis. Mas vou opinar um pouco.

Meu palpite é que o principal problema é a unidimensionalidade da Elektra atual. A premissa da série é que Elektra foi ressuscitada, se tornou uma assassina fria, cruel e... bom, unidimensional. Não há conflitos, não há dúvidas, não há um pingo de desenvolvimento da personagem em sua própria série. É apenas uma seqüência de “missões” desconexas, num enredo que se assemelha muito a o de um videogame de pancadaria. Nesses moldes, não há personagem que consiga carregar uma série nas costas.

O fato é que Elektra é um personagem de segundo escalão, originalmente uma coadjuvante, que não tem uma galeria de vilões ou aliados. Junte a isso uma trama inexistente, sem qualquer importância em termos de cronologia (é sempre mais um trabalho, levando a outro trabalho, levando a...) e dispa a personagem de toda a sua complexa personalidade. Parabéns, você criou mais um fiasco editorial. Assim foi Elektra, que para os padrões americanos, até que durou muito. A série manteve um padrão no mínimo regular em termos de arte e os roteiros de Bob Rodi, que acabou como roteirista fixo do título, proporcionaram bons momentos de ação, mas nada que chegasse perto do potencial da personagem.

Elektra foi criada por Frank Miller e só ele a conhece por inteiro. Ele foi o único autor capaz de fazer dela uma personagem digna de nota. Para todos os outros roteiristas, ela é apenas uma máquina de matar, com um mínimo de personalidade. Miller e os fãs que a conhecerem através da sua arte sabem que ela é muito mais que isso.


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