terça-feira, janeiro 25, 2005

Marvel MAX #17



Panini Comics - Janeiro 2005

Marvel MAX é considerada por uns o melhor mix da Panini atualmente. Eu concordo, mas por W.O. Os outros mixes são tão ruins que fica fácil...

Poder Supremo (Supreme Power #12 – Out/2004)
Roteiro: J. Michael Straczynski
Desenhos: Gary Frank
Cores: Chris Sotomayor

Chega ao fim o primeiro “arco” de Poder Supremo (se é que se pode chamar de “arco” 12 edições que terminam com um “continua...”), série mais que aclamada por público e crítica, embora eu não entenda muito bem o porquê. Contada em forma de quatro histórias paralelas num curioso recurso argumentativo, a história deixa a já conhecida sensação de que “agora a coisa começa”, o que não é nenhuma novidade para quem acompanha regularmente a série. É mais do mesmo.

Em 12 edições, Straczynski trabalhou na apresentação e construção de seus personagens, especialmente Hipérion, mas não foi muito longe na criação de uma trama. A cada nova edição, novas questões são levantadas, novos personagens introduzidos, pontas soltas são mostradas, num excepcional esboço de alguma trama que simplesmente não acontece. E nossa expectativa se transporta automaticamente para a edição seguinte. Exceto neste caso, pelo fato de que não há edição seguinte, pois não há mais edições publicadas de Poder Supremo nos EUA. Supõe-se que pelo menos 6 meses se passem até que a série volte a ser publicada pela Panini, o que leva à desconfortável constatação de que terei que reler o “arco inicial” novamente quando esse momento chegar. Mas vamos à história.

Nessa edição, como eu disse, temos quatro histórias paralelas. Na primeira, Zarda (a personagem cujas medidas desmentem quem diz que a arte de Gary Frank é realista) e Hipérion se despedem, e ela sai para fazer “comprinhas”. Na segunda, o Falcão Noturno e o Borrão de Atlanta começam a investigar uma série de assassinatos em Chicago, aparentemente praticados por alguém com “poderes supremos” e que “gosta de matar” (sim, algum supervilão). Na terceira temos a dose mensal de conspiração governamental de Straczynski, assim como sua dose mensal de diálogos em que muito é dito e pouco é explicado. A última história é sem dúvida a mais interessante. Quadro após quadro há sempre o mesmo cenário: uma casinha de campo isolada, em que algo muito ruim parece tomar corpo.

Poder Supremo é o curioso caso de uma série que era muito promissora no número 1, e continua muito promissora no número 12. Isso não é um elogio. A série não consegue corresponder à perene expectativa de que algo muito legal vai acontecer. A qualidade de um bom roteirista também passa por saber quando a introdução termina e a história propriamente dita começa. Straczynski nos deu 12 edições que são a introdução do que parece ser uma boa história. Resta saber se um dia a história vai começar.
-----------

Alias (Alias #17 – Fev/2003)
Roteiro: Brian Michael Bendis
Desenhos: Michael Gaydos
Cores: Matt Hollingsworth

Alias é mais uma série que se propõe a mostrar super-heróis de forma “realista”, mas dessa vez contando com a maestria de Brian Bendis e Michael Gaydos, o que não é pouco. A série segue o dia-a-dia de Jessica Jones, uma investigadora particular com uma característica incomum: ela é uma “ex-super-heroína”.

Nessa edição temos a segunda parte do arco Intimidade, contada em forma de um flashback. Jessica continua investigando por que Mattie Franklin, a Mulher-Aranha, invadiu seu apartamento e por que não ficou para um café. Como em geral acontece, ela acaba se envolvendo emocionalmente com a história e a coisa toma um rumo inesperado. Nesta edição fica claro o que todos já imaginavam. Jessica tem algo mais que um simples esqueleto no armário, que só agora começa a vir à tona.

Alias é minha série favorita atualmente, sem sombra de dúvida. Bendis consegue dar dimensão humana aos super-heróis de forma completamente diferente do tratamento habitual. Na maioria das historias que tratam super-heróis de forma “realista”, temos o eterno conflito de como os poderes afetam o herói e todos ao seu redor; temos a eterna questão de até que ponto vale a pena arriscar a sua vida e de seus entes queridos para salvar desconhecidos; temos todo tipo de “ser ou não ser”, muito sofrimento e lamentações. Vide a eterna lamúria dos X-Men de Chris Claremont.

Em Alias, pouco importam os poderes da heroína Jessica Jones. Na verdade conhecemos muito mais suas paranóias que suas virtudes, e é isso que faz a série funcionar mesmo sem rompantes de ação e supervilões mascarados. Jessica já resolveu boa parte de seus conflitos de super-herói, e da forma mais radical possível. Ela não quer ser um deles, e ponto final. O que a levou a essa decisão é algo que ainda será explorado na série, mas o fato é que seus conflitos são um pouco mais profundos, e encarnam a enorme riqueza de sensações e sentimentos meramente humanos.

Do ponto de vista da execução, Alias é também primorosa. A arte de Gaydos deve dar calafrios nos fãs de Jim Lee e Marc Silvestri, o que é sempre boa coisa. As ambientações de Gaydos são densas e escuras, num minimalismo que nos obriga a encarar cada personagem face a face. Não há saída: nada de músculos hipertrofiados, seios inflados ou cores berrantes para desviar nossa atenção. Apenas rostos cujas expressões mais que ilustram os diálogos de Bendis. Elas os levam um patamar acima, escancarando um mundo de emoções em cada quadro.

Outro ponto positivo de Alias é a habilidade com que Bendis utiliza personagens esquecidos nos porões da Marvel. Componentes do que poderia ser visto como o terceiro escalão da editora, o Homem-Formiga, a (terceira) Mulher-Aranha e a Madame Teia na mesma história seriam motivo de riso há alguns anos. Não aqui. Mesmo quando utiliza personagens consagrados como J.J. Jameson ou o Capitão América, Bendis consegue desconstruir o estereótipo sem destruir o mito, coisa que Garth Ennis, por exemplo, não consegue.

A riqueza de sensações, a inteligência das situações e o respeito à continuidade fazem de Alias uma das melhores séries já produzidas pela Marvel.
-----------------

Thor: Vikings (Thor: Vikings #3 – Dez/2003)
Roteiro: Garth Ennis
Desenhos: Glenn Fabry
Cores: Paul Mounts

Continua a história da horda de guerreiros vikings do séc. XI que, após serem amaldiçoados por um feiticeiro a vagarem a esmo por mil anos, chegam à Nova York atual causando uma infindável onda de destruição e morte. O Dr. Estranho (tendo Thor como mero espectador) reuniu através da história três guerreiros, descendentes do feiticeiro que amaldiçoou os vikings, para lançar o contra-ataque.

Garth Ennis já foi meu ídolo. No início dos anos 90, época em que as histórias de super-heróis estavam em franca decadência (para se ter uma idéia a Marvel estava prestes a falir e a Image era vendida como a salvação do mercado dos quadrinhos, com suas séries “originais” e artistas “talentosos”), o selo Vertigo, da DC, lançava séries inteligentes e desafiadoras com temática adulta. Superado em popularidade apenas por Sandman e Hellblazer, Preacher revelou ao mundo dos quadrinhos o talento do irlandês cuja criatividade e propensão para o grotesco não poupavam religião, moral ou bons costumes. Escrever quadrinhos de horror não é para qualquer um, e Ennis o faz com maestria. Foram também dele alguns dos arcos memoráveis de John Constatine, incluindo o clássico "Dangerous Habits" (em Hellblazer #41-46, 1991; no Brasil "Hábitos Perigosos", em Vertigo #1-3, 1995).

Na Marvel, desde que assumiu o título mensal do Justiceiro, Ennis vem mantendo sua fama com a fórmula que parece nunca envelhecer: partes do corpo separadas umas das outras e muito linguajar “adulto”. Thor: Vikings não vai tanto na direção do linguajar, mas o que mais vemos são pedaços voando.

Desde o primeiro número era fácil perceber que essa não é uma série sobre como Thor vai debelar o ataque dos vikings, mas uma série sobre como Ennis e Glenn Fabry são bons em fazer histórias ultra-violentas. Eles são os protagonistas da série, e não Thor. Não que eu tenha um problema com isso. Afinal, sou muito mais fã de Ennis que de Thor, mas algumas coisas não estão certas aqui.

O grande problema de Thor: Vikings é justamente a questão do protagonista. A história sofre daquilo que Paul O’Brien, do site The X-Axis, chama de “síndrome do protagonista intercambiável”: uma história que poderia ser estrelada por qualquer super-herói, sem a necessidade de qualquer alteração no roteiro. A série poderia muito bem se chamar Homem de Ferro: Vikings, ou Wolverine: Vikings, ou Qualquer Outro Personagem: Vikings, bastando mostrar que os poderes do herói são inúteis contra o indestrutível Jaelkesson, o Dr. Estranho vindo ao seu auxílio, reunindo um bando de guerreiros através do tempo e... bom, deu para passar a idéia.

Por razões óbvias, Thor foi o herói escolhido, mas em momento algum Ennis utiliza a figura do deus nórdico como parte do enredo. Jaelkesson reconhece Thor como o deus do trovão, mas isso não faz a menor diferença para ele, assim como não faz para Thor lutar contra aqueles que, eu diria, são o seu povo. Eu gostaria que o encontro fosse tratado de forma menos óbvia, e suas implicações exploradas mais a fundo. Mas aqui a coisa se trata de mostrar seres humanos de dentro para fora (literalmente), e não há espaço para sutilezas. Eu entendo, mas não gosto.

Ennis também é notório por seu desprezo pela caracterização fiel e respeito à continuidade dos super-heróis da Marvel. Sempre que um deles surge como coadjuvante em Justiceiro, é apenas para apanhar e ser ridicularizado. Aqui não é diferente com o deus do trovão, que acaba sendo um coadjuvante na sua própria história, tendo o Dr. Estranho como o verdadeiro herói. Não pude deixar de sorrir ao ler a passagem em que o Dr. Estranho ferve uma mistura num caldeirão, que faz com que todos os que bebam adquiram força sobre-humana. Os vikings de Jaelkesson não seriam páreo para os guerreiros daquela pequena aldeia gaulesa...

Ficamos então aguardando o desfecho da série, com a certeza de que muito sangue e vísceras ainda irão rolar. E nada mais que isso.

Nenhum comentário: